joao lopes
9 Nov 2017 18:43
A história de Robin Cavendish (1930-1994) é uma daquelas sagas humanas com tanto de enérgico como de comovente. Atingido pela poliomielite aos 28 anos, Cavendish não se conformou com aquele que era, naquela altura, o destino "normal" dos doentes como ele: permanecer fechado num hospital, na quietude imposta pelo seu corpo (sem movimentos do pescoço para baixo). A sua sobrevivência ficou mesmo ligada a toda uma militância no sentido de criar condições (por exemplo: cadeiras especiais) para que as pessoas com poliomielite pudessem circular pelos mais diversos espaços.
Não admira que o filme realizado por Andy Serkis, "Vive" [título original: "Breathe"] apresente como trunfo decisivo o trabalho do seu actor principal, Andrew Garfield. E desde logo porque em grande parte das cenas ele se apresenta como uma figura inerte, "reduzida" aos movimentos e expressões do rosto. Garfield confirma-se, assim, como um talentoso e versátil intérprete — vale a pena recordar que o descobrimos em 2007, em "Peões em Jogo", contracenando com o actor/realizador Robert Redford.
"Vive" possui a energia da sua personagem, da sua capacidade para enfrentar os mais diversos contratempos, sempre com a admirável cumplicidade da sua mulher, Diana (Claire Foy). Ao mesmo tempo, dir-se-ia que o filme não acredita o suficiente em tal energia, evoluindo no sentido de exaltar o valor "simbólico" de Robin, como se a intensidade das situações necessitasse de qualquer redundância dramática.
Para Andy Serkis, esta é, afinal, uma insólita viragem. Acontece que, como actor, ele tem sido um dos maiores especialistas das personagens digitais dos últimos anos — recorde-se que foi o ‘Gollum’, de "O Senhor dos Anéis", que deu popularidade ao seu nome. Agora, através de "Vive", Serkis parece apostado em (re)valorizar o corpo humano, e as suas aventuras, como fonte fundamental de expressão. É um gesto singelo que merece reconhecimento.