Cate Blanchett e Richard Linklater — rodagem de

crítica

Aventuras e desventuras de Cate Blanchett

Um grande actriz, Cate Blanchett. E um cineasta verdadeiramente original, Richard Linklater. Do seu encontro nasceu "Onde Estás, Bernadette?", filme que não faz justiça ao talento de qualquer um deles...

É bem verdade que Cate Blanchett é uma das mais admiráveis actrizes contemporâneas. Para nos ficarmos pelo óbvio, lembremos os dois filmes que lhe deram Oscars, respectivamente como actriz secundária e principal: "O Aviador" (Martin Scorsese, 2004) e "Blue Jasmine" (Woody Allen, 2013). E não será menos verdade que o realizador Richard Linklater possui um invulgar sentido de risco e experimentação que o levou a fazer um filme tão especial como "Boyhood" (2014), acompanhando os seus actores ao longo de mais de uma década.

Do encontro de Blanchett e Linklater poderíamos esperar, no mínimo, uma espécie de "somatório" das respectivas qualidades. "Onde Estás, Bernadette?" é o resultado desse encontro, tendo como base o livro homónimo de Maria Semple, dando conta das aventuras e desventuras de uma mulher que parece experimentar uma asfixia existencial no interior da sua "família-exemplar-e-feliz"…

Infelizmente, os resultados ficam muito aquém das expectativas. Aparentemente, a própria definição da personagem de Bernadette (fiel ou não ao livro, não posso testemunhar) não ajuda muito. Estamos perante uma daquelas sagas de "pesquisa da sua própria identidade" que se vai esgotando na ideologia voluntarista de alguns programas televisivos. Para mais, a tentativa de conferir algum humor às situações raras vezes ultrapassa um banal nível anedótico.

Claro que Blanchett nunca é vulgar — os momentos em que dita as suas reflexões para o telemóvel são esclarecedores da sua versatilidade. Tem, aliás, a acompanhá-la o talentoso Billy Crudup, no papel do marido, e a estreante Emma Nelson, compondo com segurança q.b. a personagem da filha. O certo é que o filme parece não ambicionar mais do que uma acumulação de ironias mais ou menos forçadas, na expectativa de um final redentor… Pelo caminho, o cinema vai-se reduzindo aos lugares-comuns de um telefilme "familiar".