joao lopes
10 Jun 2015 23:58
O que define um autor não é apenas um núcleo de temas mais ou menos obsessivo, ou um sistema de narrativas mais ou menos estável. É também a capacidade de integrar a herança da sua própria obra, eventualmente experimentando novas variações, mas evitando a ilusão de copiar o seu "estilo" — infelizmente, parece que é isto mesmo que está a acontecer a Noah Baumbach.
O ponto de partida de "Enquanto Somos Jovens" não deixa de ser sugestivo. Há um casal (Ben Stiller/Naomi Watts) a experimentar os sentimentos amargos e doces da entrada nos 40 anos… E há outro casal (Adam Driver/Amanda Seyfried), mais jovem, que vai funcionar como uma espécie de "modelo" para o primeiro — como se a existência dos mais velhos pudesse ser resgatada pelos mais novos…
O mais desconcertante é o facto de Baumbach apenas utilizar tal situação para dois tipos de variações: ou tudo acontece num enredo de auto-complacência mais ou menos queixosa que reduz as personagens a peões de um moralismo pouco atractivo; ou, então, não se passa de um registo de caricatura superficial que mais parece uma imitação pretensiosa de algumas comédias da primeira fase da carreira de Woody Allen.
O resultado, sempre penoso, é a redução dos actores a peças banalmente instrumentalizadas no interior de um argumento que, em última instância, parece não acreditar nas suas próprias situações e personagens. Mesmo uma certa agilidade da câmara — especialmente sensível no título anterior de Baumbach, "Frances Ha" (2012) — está aqui reduzida a uma "neutralidade" sem lógica nem emoção… Acontece aos melhores.