Valerio Mastandrea e Bérénice Bejo — a intimidade segundo Marco Bellocchio


joao lopes
8 Abr 2017 0:50

Quem são os grandes clássicos do cinema italiano? Quem são os autores que ajudaram a definir tanto a sua concisão social como a capacidade de lidar com os enigmas do comportamento humano?

Sabemos responder, sem dúvida: de Roberto Rossellini a Michelangelo Antonioni, do neo-realismo às convulsões das "novas vagas", o seu trabalho deixou marcas profundas dentro e fora de Itália… Mas porque é que, quase sempre, nos esquecemos de Marco Bellocchio?

Lembremos, para simplificar, que aos 77 anos (nasceu a 9 de Novembro de 1939, em Piacenza, na região da Emilia-Romagna) Bellocchio continua a ser um cineasta capaz de preservar uma tradição (melo)dramática que começa sempre no gosto por histórias capazes de expor as ambiguidades e contradições do factor humano.
Assim acontece em "Sonhos Cor-de-Rosa", estreado o ano passado, em Cannes, integrando a programação da Quinzena dos Realizadores. Tendo como ponto de partida o romance homónimo de Massimo Gramellini (editado entre nós, pela Bertrand, como "Tem Bons Sonhos"), Bellocchio encena a trajectória de um adulto que continua a viver de forma palpável — e, por assim dizer, realista — a perda da mãe, ocorrida quando tinha apenas nove anos…
Como sempre através de uma excelente direcção de actores (Valerio Mastandrea, Bérénice Bejo, Dario Dal Pero, etc.), Bellocchio desmonta esse conflito, latente ou expresso, entre a identidade social dos seus protagonistas e as razões (mesmo as menos racionais…) das suas pulsões mais fundas. Escolhido para inaugurar a Festa do Cinema Italiano, "Sonhos Cor-de-Rosa" é, de facto, um exemplo modelar de uma produção que sabe falar do presente sem menosprezar a riqueza do seu património narrativo.

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