joao lopes
13 Nov 2020 0:59
Para a esmagadora maioria dos espectadores portugueses, o cinema brasileiro é uma "coisa" virtualmente inexistente. Dito de outro modo: há muito (desde os tempos heróicos do Cinema Novo) que a produção cinematográfica brasileira tem uma presença irregular nos circuitos portugueses, aqui e ali pontuada por sucessos internacionais como "Dona Flor e os Seus Dois Maridos" (1976) ou "Cidade de Deus" (2002).
Daí que se saúde o aparecimento de "Casa Branca", de Fellipe Barbosa. Será um exemplo menor daquela produção e, além do mais, chega com algum atraso (tem data de 2014, ano em que ganhou o prémio do público no Festival do Rio de Janeiro). Seja como for, há nele um misto de realismo e vibração dramática que importa reconhecer e valorizar.
A história da família da burguesia do Rio de Janeiro assombrada por tensões afectivas e crescentes problemas financeiros segue as convenções de muitas narrativas, em especial de natureza televisiva, que tendem a tratar as relações humanas através de estereótipos mais ou menos moralistas. Mas é um facto que "Casa Grande" consegue, pelo menos, criar personagens cuja densidade psicológica mobiliza o nosso olhar e a nossa escuta.
Sublinhe-se, por isso, o investimento no trabalho específico dos actores, em especial no trio de principais figuras da família retratada: Marcello Novaes e Suzana Pires, os pais, e sobretudo Thales Cavalcanti, intérprete do filho mais velho — é por ele que passa um desejo de mudança que, num certo sentido, resume o propósito moral deste cinema. Dito de outro modo: "Casa Grande" é um filme sobre o modo como cada cumpre, ou renega, o seu "destino" familiar.