5 Abr 2018 0:48
Quem se lembra que, nos anos 70, o cinema brasileiro era uma presença importante no mercado cinematográfico português? Na verdade, os filmes de autores como Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman tinham um lugar significativo no espaço da distribuição/exibição, mantendo um laço de comunicação que estava para além da partilha da língua. Que mudou desde então? É fácil responder: os formatos telenovelescos ocuparam o espaço audiovisual, secundarizando o cinema.
O filme "Cinema Novo", de Eryk Rocha, aí está, tentando, pelo menos, que não percamos as memórias de tão rico período criativo. O realizador é filho de Glauber Rocha (1939-1981) e, naturalmente, a obra do pai surge como uma referência forte no seu trabalho. Mas não por razões banalmente familiares: com o seu lema "uma câmara na mão, uma ideia na cabeça", Glauber foi, afinal, um símbolo fortíssimo de uma geração de muitos talentos.
Há um aspecto de "Cinema Novo" que pode limitar o seu impacto. De facto, na maior parte dos casos, Eryk Rocha não identifica os extractos dos (muitos) filmes citados, de alguma maneira condicionamento o conhecimento, ou reconhecimento, do próprio espectador. Mas há uma razão para que tal aconteça: ele procura mostrar como os filmes de todos aqueles cineastas dialogavam entre si, reflectindo sobre um Brasil de muitas clivagens sociais e económicas.
Por um lado, "Cinema Novo" sublinha a relação dos cineastas dos anos 60/70 com os pioneiros da produção brasileira, a começar por Humberto Mauro; por outro lado, mostra a sua proximidade de vários movimentos paralelos (Itália, França, Portugal, etc.), assumindo e transfigurando a herança social e simbólica do movimento neo-realista — é um filme útil, pedagógico, enriquecendo a nossa visão presente através da celebração de um passado riquíssimo.