Gabriel Cartol no papel da camareira: um drama com a Cidade do México em pano de fundo


joao lopes
27 Nov 2020 19:34

Eis um desafio tradicional, sempre sugestivo: filmar uma personagem solitária num cenário em que, supostamente, se podem multiplicar encontros e desenvolver relações. Dito de outro modo: "A Camareira" (2018) é o retrato de Eve, empregada de limpeza num hotel de luxo da Cidade do México, dividida entre as preocupações com o dia a dia do filho e as exigências de um trabalho em que contacta com as personagens mais inesperadas.

Estamos perante uma revelação curiosa de um cinema mexicano que conhecemos mal, até porque os seus autores mais fortes — Guillermo del Toro, Alfonso Cuarón e Alejandro González Iñárritu — se tornaram personalidades da produção dos grandes estúdios dos EUA: depois de alguns trabalhos de curta-metragem, "A Camareira" é o primeiro formato longo dirigido por Lila Avilés.



Os resultados estão limitados pela lógica de um argumento (escrito pela realizadora, com a colaboração de Juan Carlos Marquéz) que parece algo indeciso nas suas opções narrativas. Assim, a figura solitária da camareira existe menos como uma personagem de corpo inteiro e mais como pretexto "simbólico" para colocar em cena as diferenças de classe que, inevitavelmente, se manifestam naquele universo — o que, além do mais, condiciona a própria diversificação dramática da composição de Eve por Gabriela Cartol.

Seja como for, sublinhe-se o paradoxo que isso instala na própria ficção. Por vezes, dir-se-ia que o único objectivo de "A Camareira" é gerar uma espécie de deambulação "documental" em torno das rotinas de Eve. Daí nascem os momentos mais curiosos e sugestivos: através dos objectos dos hóspedes cujos quartos vai limpando, ela vai pressentindo as diferenças de um mundo em que pode entrar, mas ao qual não pertence.

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