joao lopes
5 Abr 2015 20:13
Conhecíamos Saverio Constanzo através de um filme com Alba Rohrwacher, "A Solidão dos Números Primos" (2010), que era uma desconcertante viagem através de um universo de afectos marginais. O seu título mais recente, "Corações Inquietos", prolonga a sua obsessão por esse tipo de marginalidade, desta vez com componentes incomparavelmente mais perturbantes.
Alba Rohrwacher regressa para interpretar uma personagem, no mínimo, inclassificável. Ela é uma jovem mulher que conhece acidentalmente um homem, interpretado por Adam Driver — é um caso de amor à primeira vista: casam-se e nasce-lhes um filho. Acontece que a mãe começa a assumir uma comportamento de tal modo protector e vigilante em relação ao bebé que, em boa verdade, coloca em risco a sua sobrevivência…
Constanzo, também responsável pelo argumento (a partir de um romance de Marco Franzoso), tem o bom senso de retirar qualquer simbolismo "sociológico" à sua história, optando antes por explorar até às mais extremas consequências as cruéis singularidades daquele núcleo familiar. Como limite, "Corações Inquietos" consegue a proeza de colocar em cena a pulsão materna, não através de qualquer imagem redentora, antes integrando os seus fantasmas mais radicais.
Escusado será dizer que nada das intensidades emocionais de "Corações Inquietos" é estranho ao trabalho dos seus actores (ambos premiados no Festival de Veneza de 2014) — através de Adam Driver e Alba Rohrwacher perpassa, afinal, o misto de entrega e pânico que o nascimento de um filho pode envolver. É também a confirmação da vitalidade de um cinema italiano que, afinal, tão mal conhecemos.