joao lopes
13 Mar 2015 16:28
O mínimo que se pode dizer da dupla de realizadores formada por Glenn Ficarra e John Requa é que o seu estilo desafia todas as expectativas. Bastará recordar "Eu Amo-te Philip Morris" (2009) e "Amor, Estúpido e Louco" (2011), duas comédias que convocavam convenções mais ou menos reconhecíveis, acabando por desafiar, ponto por ponto, os seus efeitos mais tradicionais.
O novo trabalho da dupla, "Focus", prolonga de forma coerente os títulos anteriores. Com uma componente, se não ainda mais perversa, pelo menos de intensa ambivalência. De facto, a ligação romântica entre as personagens interpretadas por Will Smith e Margot Robbie inscreve-se numa matriz de comédia que o filme confirma e desmente, num ziguezague de evidente e contagiante alegria.
Dito de outro modo: na sua lógica de "comédia-de-vigaristas", obviamente devedora da riquíssima herança de um autor clássico como Billy Wilder, "Focus" atravessa lugares-comuns (raciais, eróticos e simbólicos) para construir uma narrativa que se faz e desfaz com a mesma agilidade com que os protagonistas encenam os seus ditirâmbicos golpes.
Num contexto em que ainda se sentem os pesados efeitos da "comédia-de-adolescentes", "Focus" representa uma lufada de ar fresco. Acima de tudo, o filme de Ficarra/Requa não menopreza o valor essencial das personagens como motor da história. Nesta perspectiva, este é também um filme de relançamento de Will Smith, reencontrando o melhor da sua persona de comediante; e também uma exuberante confirmação do talento de Margot Robbie, depois da sua presença essencial em "O Lobo de Wall Street" (2013), de Martin Scorsese.