joao lopes
8 Nov 2019 1:51
Nos tempos que correm, há muito boa gente que faz cinema com talentosos actores, mas que prefere… os efeitos especiais. Repare-se nos nomes que encontramos na ficha artística de "Midway", produção/realização de Roland Emmerich: Ed Skrein, Patrick Wilson, Woody Harrelson, Luke Evans, Mandy Moore, Aaron Ackhart, Dennis Quaid…
Porquê, então, tratar esta evocação da Batalha de Midway, na Segunda Guerra Mundial, como uma espécie de medíocre videojogo que parece não ter outra ideia que não seja a monótona proliferação de aviões digitais e explosões mais ou menos exuberantes?
Será preciso referir que aquilo que está em causa não é o "tema"? Lembremos o admirável díptico de Clint Eastwood, "As Bandeiras dos Nossos Pais/Cartas de Iwo Jima" (2006), sobre a mesma conjuntura bélica, e vejam-se as diferenças… E não são diferenças banalmente técnicas — será preciso sublinhar também que Eastwood se apoiava numa sofisticada máquina de produção?
Acontece que "Midway" não tem qualquer gosto pela possível subtileza dramática das personagens, nessa medida entregando os actores a um equilíbrio instável que cada um tenta resolver o melhor que pode… No limite, cada personagem é tratada como um pormenor instrumental para "justificar" as monótonas cenas (ditas) de acção.
É verdade que os combates entre os exércitos de EUA e Japão no Oceano Pacífico foram um capítulo decisivo na evolução da guerra. Mas não é menos verdade que a sua abordagem impõe alguma disponibilidade para lidar com a complexidade da história… Daí que, sem prejuízo de reconhecer as virtudes do seu elenco, "Midway" seja sobretudo um enorme desperdício de produção.