Christos Loulis no papel de Yanis Varoufakis — encenar a política como um acto heróico


joao lopes
29 Nov 2019 23:48

Face ao novo trabalho de Costa-Gavras, "Comportem-se como Adultos", vale a pena recordar que este cineasta francês, nascido na Grécia, foi um dos símbolos do chamado "filme-político" tal como foi praticado ao longo dos anos 60/70 na produção europeia — lembremos os exemplos de "Z – A Orgia do Poder" (1969), "A Confissão" (1970) e "Estado de Sítio" (1972).

Em boa verdade, Costa-Gavras nunca abandonou tal modelo, mesmo se, pelo meio, foi assinando títulos com outras características, com destaque para aquele que é, a meu ver, um dos seus melhores filmes: "Cidade Louca" (1999), um "thriller" com Dustin Hoffman e John Travolta. Agora, em "Comportem-se como Adultos", trata-se de adaptar o livro homónimo de Yanis Varoufakis, evocando as dramáticas convulsões da crise grega de 2015 no seio da União Europeia.
Dir-se-ia que o filme tem a seu favor o facto de, a um certo nível, funcionar como um "relatório" de informações quase jornalísticas. Em cena está o confronto de Varoufakis, então ministro das Finanças da Grécia, com personalidades como Wolfgang Schäuble (ministro das Finanças da Alemanha), numa espécie de "telejornal" delirante e absurdo. Para Varoufakis e Costa-Gavras, a moral da história está decidida desde o primeiro momento. A saber: há quem faça política de modo infantil…
Costa-Gavras encena Varoufakis como um herói sem nuances, um cruzado impoluto face à intransigência das instâncias europeias, o que terá muitas e pertinentes razões políticas e morais, mas gera um filme esquemático e maniqueísta, não mais que um "tele-dramático" sobre a política europeia. A própria interpretação de Varoufakis por Christos Loulis vai nesse sentido — não chega a ser uma personagem, filmicamente é apenas um símbolo imaculado que estabelece os limites da própria narrativa.

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