13 Abr 2018 0:44
Quantos filmes surgem nas salas portuguesas sem que o seu público (potencial) tenha, ao menos, conhecimento do seu lançamento?… A pergunta justifica-se porque, de facto, estamos a assistir a uma acumulação de novidades (há semanas com mais de 10-estreias-10!) que condena muitos deles a um apagamento automático. "Não Me Ames", uma produção grega assinada por Alexandros Avranas, é um desses filmes — um objecto fora de moda, fora de tom, fora de rotinas, que merece, no mínimo, a disponibilidade do espectador.
Em qualquer caso, registe-se que Avranas não é um total desconhecido dos circuitos portugueses, uma vez que já se estreou entre nós o seu "Miss Violence" (2013), drama convulsivo que desmontava um espaço familiar dominado por um poder masculino ditatorial. Em "Não Me Ames", reencontramos essa magnífica actriz que é Eleni Roussinou. E redescobrimos também a perturbação interior de uma metódica decomposição do território conjugal.
"Não Me Ames" coloca em cena o casal interpretado por Roussinou e Christos Loulis, envolvido num empreendimento que marido e mulher parecem tratar com uma frieza extrema, à beira do impessoal: decidiram ter um primeiro filho, para tal tendo contratado uma jovem como barriga de aluguer; a jovem vai mesmo habitar com eles durante o tempo da gravidez…
Acrescentar mais do que isto seria impedir o espectador de descobrir os twists desta história que, de facto, não é o que parece. Digamos apenas que, à medida que a serenidade das superfícies vai dando lugar a uma crescente inquietação, Avranas nos envolve numa tensão genuinamente trágica em que todas as relações humanas parecem conter uma letal carga de mentira(s). "Não Me Ames" é um conto moral com a marca de um cineasta que sabe criar atmosferas e, sobretudo, expor as contradições mais viscerais das suas personagens.