crítica
Da ironia ao formalismo
Foi um filme que se destacou nas secções paralelas do último Festival de Berlim: "Higiene Social", de Denis Côté, integra de modo irónico as marcas da pandemia, embora cedendo a um formalismo algo fácil.

joao lopes
29 Mai 2021 23:53
Cinema sobre a pandemia? Ou apenas cinema da pandemia? Seja qual for o rótulo que possamos aplicar a "Higiene Social", uma coisa é certa: o filme escrito e realizado pelo canadiano Denis Côté vai ficar como um objecto simbólico dos tempos que vivemos. E por uma razão plena de ironia: os seus actores representam respeitando os distanciamento social…
Que acontece, então? Pois bem, Côté terá pensado que a maneira mais directa de inscrever no seu filme a conjuntura pandémica em que ele foi gerado seria, precisamente, encená-lo como uma narrativa contaminada pela própria pandemia. As imagens são esclarecedoras: a "higiene" (entenda-se: o distanciamento) a que se refere o título resulta, afinal, das precauções decorrentes do Covid-19.
É uma curiosa ideia visual. Fica por demonstrar que seja uma grande ideia de cinema. Isto porque, para lá do saboroso efeito de surpresa (esvaziado ao fim de poucos minutos), Côté parece interessar-se mais pelo formalismo do empreendimento do que pela história que tem para nos contar.
Que história? Trata-se de fazer o retrato Antonin (Maxim Gaudette), escritor falhado confrontado com as censuras de várias mulheres, parecendo compensar os seus infortúnios com uma pose de "dandy" — para utilizar a palavra utilizada no texto de apresentação de "Higiene Social" no Festival de Berlim. Os resultados são suficientemente insólitos para despertar a nossa simpatia, mas pouco mais conseguem do que gerar um teatro de "marionetas" a que falta uma genuína visão cinematográfica.
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