joao lopes
13 Fev 2015 0:51
A história de Quinquin (Alane Delhaye) e da sua namorada Ève (Lucy Caron) tem qualquer coisa de visceralmente romântico: ele está loucamente apaixonado por ela e, durante as férias, dão grandes passeios de bicicleta… Em todo o caso, o filme "O Pequeno Quinquin" é menos uma celebração romântica e mais um mergulho nas vidas esquecidas de uma pequena povoação da zona de Pas-de-Calais, no norte de França. Drama, então? Não, antes uma insólita e saborosa comédia!
É verdade: o realizador Bruno Dumont — que conhecemos através de títulos como "A Humanidade" (1999), "Hadewijch" (2009) ou "Camille Claudel 1915" (2013) — mantém-se fiel ao asssombrado realismo do seu universo para construir uma narrativa que vai deslizando para uma ambiência de absurdo, pontuado por delirantes marcas burlescas.
À partida, existe um pretexto mais ou menos policial: a descoberta de um crime macabro nos campos em que Quinquin gosta de se refugiar. Em todo o caso, a investigação que se desenvolve, conduzida pela surreal personagem do comandante Van der Weyden (Bernard Pruvost), não vive tanto desse mistério, como dos enigmas ambulantes que são as personagens desta farsa afinal encenada à flor da pele — e os espantosos actores locais, completamente amadores, não serão alheios à singularidade dos resultados.
Produzido pelo canal franco-alemão Arte, "O Pequeno Quinquin" constitui um exemplo modelar de uma inventiva articulação cinema/televisão (que, neste caso, gerou um objecto que é, de uma só vez, uma mini-série e uma longa-metragem para as salas escuras). Acima de tudo, Dumont demonstra que é possível trabalhar através de convenções mais ou menos correntes, gerando uma obra que transcende lugares-comuns éticos e estéticos.