crítica
Drama e comédia segundo o mestre Ozu
O mercado cinematográfico continua vivo, isto é, não se esquecendo de nos proporcionar a (re)visão de grandes clássicos — agora, é a vez de podermos voltar a admirar o génio do japonês Yasujiro Ozu através de três títulos da fase final da sua obra.
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27 Jul 2014 19:06
Ao contrário do que pode fazer crer uma visão tecnocrática e economicista do cinema, os filmes não se medem pelos milhões que custam ou rendem, nem pelos "efeitos especiais" que utilizam… Mais do que isso: a produção cinematográfica não é um fenómeno que se esgote nas campanhas de marketing dos últimos seis meses, quanto mais não seja porque estamos a falar de uma linguagem com uma história (imensa e fascinante) com mais de um século!
* A FLOR DO EQUINÓCIO (1958) — O empenho de alguns velhos amigos em casar as suas filhas acaba por ser o pretexto para um deles se confrontar com a sua própria dificuldade em aceitar que a filha desafie a sua autoridade, escolhendo um noivo que não foi "proposto" pelo pai — sempre num registo de grande delicadeza emocional, em que o drama parece tão íntimo quanto suspenso, Ozu expõe as transformações das relações geracionais no Japão pós-Segunda Guerra Mundial.
* O FIM DO OUTONO (1960) — Também aqui o jogo dos casamentos é vivido de forma contraditória por pais e filhos. Com a particularidade de ser a morte do patriarca de uma família que desencadeia a vontade dos seus amigos casarem a filha (e, por fim, a própria viúva…). Como em todos os títulos finais de Ozu, também aqui se cruzam sentimentos de alegria e desencanto, polarizados por uma visão de serena aceitação da possibilidade da morte.