Jack O'Connell no papel de Louis Zamperini — no âmago de uma singularíssima experiência individual


joao lopes
8 Jan 2015 0:22

O mínimo que se pode dizer da vida épica de Louis Zamperini (1917-2014) é que desafia qualquer modelo corrente de verosimilhança. Atleta olímpico, em Berlim/1936, participou nos combates aéreos da Segunda Guerra Mundial, ao largo do Pacífico, o seu avião despenhou-se no mar, conseguiu sobreviver durante mais de 40 dias até ser capturado pelos japoneses — num campo de prisioneiros, resistiu a tratamentos de enorme violência física e psicológica…

Contar esta história apenas e só como uma crónica "simbólica" seria, por certo, o mais fácil. Mas no seu segundo trabalho como realizadora (o primeiro foi "Na Terra de Sangue e Mel", em 2011), Angelina Jolie segue a via mais delicada e também emocionalmente mais envolvente: "Invencível" (título original: "Unbroken") apropria-se das memórias de Zamperini, coligidas no livro de Laura Hillenbrand, para construir uma magnífica saga de resistência e amor à vida.
Não será, por certo, muito comentado o trabalho técnico de "Invencível" para fabricar os cenários por onde passa a odisseia de Zamperini — com especial destaque para os dois campos em que é preso —, mas este é um caso exemplar de um cinema em que, de facto, os prodigiosos efeitos especiais estão ao serviço de um determinado clima físico e dramático, vital para o conhecimento das personagens.
Escolhendo sempre a contenção contra o sublinhado retórico (veja-se, por exemplo, a breve mas espantosa cena em que Zamperini descobre os aposentos do comandante do campo que tantas vezes o agrediu), Angelina Jolie consegue, assim, um filme em que o primado das personagens passa, inevitavelmente, pelo minucioso trabalho de representação.
Jack O’Connell, jovem inglês de 24 anos, tem uma composição de invulgares nuances emocionais na figura de Zamperini. Além do mais, os actores secundários são tratados com uma atenção e um rigor que evita que a sua presença tenha qualquer coisa de "decorativo". Este é, aliás, um filme em que tudo passa por um elaborado ziguezague entre as intensidades das experiências individuais e as convulsões da história colectiva — sempre através da mais depurada escrita clássica.

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