Nora von Waldstätten e Ursula Strauss: duas irmãs a ajustar contas com o seu passado

crítica

Duas irmãs em cenários austríacos

"Outubro Novembro", de Götz Spielmann, é uma boa descoberta vinda da produção austríaca — no seu centro está a relação de duas irmãs que, face à doença do pai, são levadas a reavaliar as complexas heranças do seu passado.

Subitamente, um drama vindo da Áustria: "Outubro Novembro", uma saga familiar centrada no reencontro de duas irmãs. Com um argumento subtil e rigoroso, sustentado por uma realização que não menospreza os detalhes visuais e emocionais — e com Götz Spielmann a acumular, com evidente segurança, ambas as tarefas.

Enfim, não se poderá dizer que, entre nós, a produção austríaca seja totalmente ignorada (em particular através do trabalho do alemão Michael Haneke). Em todo o caso, importa sublinhar o mais básico, tantas vezes esquecido na confusão dos histerismos da "globalização" cultural: há, de facto, em muitos países (europeus e não só) formas de criatividade que importa descobrir nss suas singularidades — e também no seu apelo universal.

As duas irmãs de "Outubro Novembro" são, afinal, dois seres a ajustar contas com o seu próprio passado familiar. Uma é actriz e viaja para estar com o pai, gravemente doente; a outra, precisamente a que tem o pai a seu cargo, vive a frustração silenciosa de quem se sempre se sentiu secundarizada no interior da dinâmica familiar — o seu reencontro é também o pretexto para o frente a frente de duas magníficas actrizes, respectivamente Nora von Waldstätten e Ursula Strauss.

Há na mise en scène de Spielmann uma atenção aos rostos e aos corpos, e também uma calculada pontuação da acção com a emergência de alguns cenários naturais, que nos faz evocar a herança imensa do mestre sueco Ingmar Bergman (1918-2007). E mesmo que tal observação não possa deixa de reconhecer as diferenças de escala entre uma e outra obra, convenhamos que esse é um paralelismo francamente sedutor.