Oakes Fegley e o seu dragão — refazendo a herança de um filme de 1977


joao lopes
13 Ago 2016 0:11

Afinal, é possível fazer um filme de Verão que seja uma "cópia" de um outro filme, mais ou menos antigo, sem ofender a inteligência dos espectadores. Acima de tudo, procurando encontrar na relação com esse filme original as componentes capazes de justificar uma abordagem que se queira subtil e inventiva, sem ficar presa a qualquer lógica de imitação… Afinal, há mais mundos para além do mundo (exangue) dos super-heróis.

É isso mesmo que descobrimos através de "Pete’s Dragon", entre nós lançado como "A Lenda do Dragão", remake de um outro "Pete’s Dragon", lançado em 1977 (título português: "Meu Amigo o Dragão"): uma competente reconversão da fábula do "menino selvagem" que cresce na companhia de um dragão, sem que isso implique qualquer tipo de subserviência beata aos célebres "efeitos especiais" e ao seu exibicionismo…




Seja como for, não se pense que o filme dirigido por David Lowery dispensa as mais sofisticadas manipulações técnicas. Bem pelo contrário: a concepção visual (e os movimentos!) do dragão envolve um misto de precisão e elegância que se revela fundamental para toda a construção narrativa do filme — porque, à boa maneira clássica, esta é uma aventura que se transfigura em conto moral sobre o indivíduo e a comunidade e, mais do que isso, sobre a preservação real e simbólica da natureza.
O filme é particularmente feliz na escolha do seu elenco, a começar pelo pequeno Oakes Fegley, compondo o Pete a que o título original se refere sem ser empurrado para os mais estafados clichés "infantis" — isto sem esquecer, claro, as presenças de Bryce Dallas Howard e Robert Redford. Em resumo, ao recuperarem o seu sucesso de há quase 40 anos, os estúdios Disney conseguem celebrar o seu próprio classicismo.

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