crítica

Elogio de Annette Bening

Um filme algo "perdido" no meio do Verão cinematográfico, mas que merece ser descoberto: "A Face do Amor" recupera a tradição melodramática, permitindo-nos voltar a admirar o brilhante talento de Annette Bening.

Será uma espécie de tique. O certo é que, sempre que aparece um filme com Annette Benning temos tendência para dizer… o regresso de Annette Bening? Porquê? De facto, ela nunca despareceu. Para nos ficarmos apenas por um exemplo próximo, vimo-la em 2010 em "Os Miúdos Estão Bem", de Lisa Cholodenko, num excelente papel que lhe trouxe, aliás, a sua quarta nomeação para um Oscar.

Que se passa, então? Digamos apenas que Benning não ganhou um Oscar… ainda não ganhou… E que a sua capacidade de fazer filmes em que assume, sem complexos, a idade que tem (n. 1958) faz dela uma não-vedeta, obviamente alheia à vaga de "juventude" que, hoje em dia, domina tudo o que é marketing.

Redescobrimo-la, então, agora, em "A Face do Amor", de Arie Posin, um título claramente secundarizado pela indústria: mostrado pela primeira vez no Festival de Toronto, estreado nos EUA em 2014, num lançamento ultra-discreto, enfim a aparecer de modo irregular nos mais diversos mercados internacionais.

E, no entanto, encontramos aqui uma escrita melodramática muito consistente. E tanto mais quanto sabe lidar com uma situação insólita, à beira do absurdo: uma mulher que conhece um sósia absoluto do seu defunto marido e que tenta construir com ele uma relação, como se o marido nunca tivesse existido…

Acima de tudo, Posin é alguém que confia nos seus actores: Bening, claro, exemplar na representação de uma demanda de amor que não quer aceitar qualquer razoabilidade; Ed Harris, na difícil tarefa de assumir as duas personagens fisicamente idênticas; Robin Williams (no papel do vizinho atento e curioso), naquele que foi um dos seus derradeiros trabalhos. Enfim, razões mais que suficientes para dizer que, na sua serena inteligência, "A Face do Amor" está para além das rotinas compulsivas do mercado de Verão.