Ewan McGregor estreia-se na realização adaptando um romance de Philip Roth


joao lopes
18 Nov 2016 23:53

É sempre gratificante deparar com um filme que, em vez de tentar exibir uma modernidade de efeitos postiços, saiba exprimir-se no depurado respeito do mais sóbrio classicismo"Uma História Americana" é um desses filmes, tanto mais tocante e envolvente quanto sabe preservar a teia temática e a densidade emocional do romance de Philip Roth em que se baseia (entre nós editado, com chancela da Dom Quixote, com o título que traduz o original: "Pastoral Americana").

Trata-se, então, de encenar as convulsões de uma família exemplar, "condenada" a ser feliz na América dos atribulados anos 60, com os traumas da guerra do Vietname em fundo. O casal Levov — ele dirigindo uma próspera fábrica de luvas, ela eternamente olhada como aquela que, na juventude, venceu um concurso de beleza — é esse núcleo de harmonia que se descobre violentamente abalado pelos desvios que a sua filha, envolvida nos protestos políticos da época, vai protagonizar…
Ewan McGregor estreia-se, aqui, na realização, assumindo também o papel do pai. E o menos que se pode dizer é que se trata de um duplo desafio que ele vence com inusitada sofisticação, para mais contracenando com a brilhante Jennifer Connely, no papel da mãe. Com Dakota Johnson a representar a personagem da filha, este é, afinal, um filme de celebração dos actores, da sua dimensão humana
À sua maneira, "Uma História Americana" revela-se um objecto duplamente corajoso: em primeiro lugar, pelo modo como percorre as convulsões de uma década em que os tradicionais equilíbrios sociais e familiares foram drasticamente postos em causa; depois, pela fidelidade a uma matriz narrativa que privilegia a irredutibilidade das personagens, nunca as esgotando em banais "símbolos" históricos. Ou seja: uma das melhores supresas deste final de 2016.

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