Rebecca Ferguson e Tom Cruise — o espectáculo como jogo de espelhos


joao lopes
2 Ago 2018 20:54
Nas últimas duas décadas, qual tem sido a regra das sequelas? Pois bem, na maioria dos casos, a palavra "sequela" atrai a palavra "monotonia" e, mais do que isso, revela um enorme desinvestimento criativo. Por isso mesmo, podemos perguntar se é possível encontrar uma excepção. E a resposta é afirmativa. Ou seja: "Missão Impossível".
Aí está, de facto, o novo e brilhante "Missão Impossível: Fallout", sexto episódio da saga do agente Ethan Hunt — ainda e sempre assumido pelo impecável Tom Cruise —, com assinatura de Christopher McQuarrie que, aliás, também dirigira o anterior "Missão Impossível: Nação Secreta" (2015). No elenco, Rebecca Ferguson, Simon Pegg e Ving Rhames também estão de volta (mas não Jeremy Renner).
Creio mesmo que se pode dizer que este "Fallout" é o que mais se aproxima do brilhantismo do primeiro "Missão Impossível", datado de 1996 e realizado com suprema elegância por Brian de Palma (recorde-se que a série televisiva começara trinta anos antes, em 1966). Acima de tudo, encontramos aqui um sentido do espectáculo que não cede a muitas facilidades correntes da digitalização, nunca banalizando a dimensão física da acção.
E não se trata apenas de sublinhar a coragem de Cruise, como é sabido resistindo o mais possível à utilização de duplos. Não é uma mera performance circense que está em causa (mesmo se é verdade que, por vezes, saboreamos o espectáculo como um sofisticado circo de gestos e movimentos) — o que mais conta é a capacidade de conservar a sensação muito humana dos corpos e dos lugares.
Tudo isso se revela essencial para a respiração dramática de uma história que, simbolicamente, nos expõe as tensões de um mundo (de espiões, manobras políticas e armas nucleares…) que, apesar do seu assumido artifício, sentimos como coisa do nosso inquieto presente. O cinema, enfim, continua a ser capaz de enfrentar os nossos medos através das delícias do espectáculo — e "Missão Impossível: Fallout" será, muito provavelmente, o objecto mais espectacular deste nosso Verão cinematográfico. 

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* Este é um genérico da primeira fase, no período 1966-73, da série televisiva "Missão Impossível" (a série seria retomada em 1988-90). O tema musical, da autoria de Lalo Schifrin, permaneceu como marca fundamental da série e dos filmes — em baixo, podemos vê-lo, ao piano, dirigindo o seu ensemble, interpretando esse tema.


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