joao lopes
14 Jun 2018 1:26
Benoît Jacquot é, há mais de 40 anos, um dos grandes individualistas da produção cinematográfica francesa. Lembremos a trilogia que o revelou: "L’Assassin Musicien" (1976), "Les Enfants du Placard" (1977) e "As Asas da Pomba" (1981), este uma adaptação de Henry James em que, pela primeira vez, dirigiu Isabelle Huppert.
Pois bem, a relação com Huppert mantém-se e, uma vez mais, com resultados brilhantes. Em "Eva" (apresentado em Fevereiro de 2018 na competição do Festival de Berlim), ela interpreta uma prostituta que atrai o olhar de um autor de teatro (Gaspard Ulliel, porventura numa das mais subtis composições da sua carreira), parecendo encarnar uma obsessão que, de algum modo, o afasta de alguns assombramentos da sua existência.
Se quisermos encontrar um modelo inspirador para o cinema de Jacquot, talvez possamos dizer que ele continua a ser um discípulo fiel, embora artisticamente livre, de Max Ophüls (1902-1957), o cineasta de "Madame de…" (1953) e "Lola Montès" (1955). Trata-se de mergulhar nas zonas mais recônditas dos desejos humanos para observar, com frieza analítica, aquilo que nos faz ser aquilo que somos — mesmo quando não sabemos como somos.
Discreto e elegante, metódico e incisivo, este "Eva" não pode deixar de ser aproximado de um outro filme também intitulado "Eva", produção britânica de 1962 assinada pelo americano Joseph Losey, com Jeanne Moreau no papel principal. Ambos se inspiram no mesmo romance de James Hadley Chase, expondo, para além das suas muitas diferenças de olhar e estilo, a mesma vulnerabilidade humana — eis um trailer do filme de Losey.