joao lopes
14 Set 2019 23:34
Porventura mais conhecido através de comédias como "Palombella Rossa" (1989) ou dramas como "O Quarto do Filho" (2001), que lhe valeu a Palma de Ouro de Cannes, o italiano Nanni Moretti é também um excelente documentarista. Bastará recordar o exemplo de "La Cosa" (1990), notável testemunho crítico sobre a evolução do Partido Comunista Italiano.
De Moretti não tinhamos qualquer novidade desde 2015, ano do belíssimo exercício intimista que é "Minha Mãe". Agora, com "Santiago, Itália", reencontramos a sua sensibilidade documentarista num filme em que, através de entrevistas do presente, o cineasta nos convoca para uma viagem a um passado muito preciso.
Trata-se de recordar as condições sociais e políticas em que, no Chile, ocorreu o golpe fascista de Augusto Pinochet, derrubando o governo democrático de Salvador Allende, a 11 de Setembro de 1973. Na sua duplicidade geográfica, o título alude a factos muito concretos: em Santiago do Chile, a Embaixada de Itália funcionou como local de acolhimento de muitas pessoas que estavam a ser perseguidas por aqueles que tinham tomado o poder pela força.
Em termos cinematográficos, "Santiago, Itália" é um caso modelar de articulação dos testemunhos contemporâneos com as imagens de arquivo. Num certo sentido, existe aqui uma lógica televisiva de inventariação; em qualquer caso, os resultados nada têm a ver com o esquematismo (descritivo, interpretativo e simbólico) tão frequente no pequeno ecrã — através das marcas da política, esta é uma história de pessoas, ideias e ideais.