joao lopes
5 Nov 2016 0:49
Infelizmente, não há muito a dizer de um filme como "Acerto de Contas". Estamos mesmo perante um desperdício de talentos vários, a começar pelos actores — Ben Affleck, Anna Kendrick, John Lithgow, etc. —, sem esquecer o irlandês Seamus McGarvey na direcção fotográfica.
De facto, a história do contabilista (Affleck), génio da matemática, drasticamente marcado pela educação autoritária ministrada pelo seu pai, começa por se parecer com um banal estudo "psicológico"; a certa altura, o "herói" não consegue aguentar a herança traumática e começa a resolver as coisas a tiro; enfim, mais perto do fim, a história da família torna-se involuntariamente anedótica…
Com "As Armas de Jane" (2016), desastrada tentativa de revitalizar (?) o "western" com Natalie Portman no papel principal, o realizador Gavin O’Connor já mostrara que a subtileza não é o seu forte. Desta vez, convenhamos que até tinha uma situação dramática susceptível de ser tratada com alguma contenção (e perturbação!). Tal como as coisas se apresentam, os resultados não ultrapassam a retórica de uma vulgar série televisiva, apenas tecnicamente bem oleada.
Entretanto, vale a pena registar que, nos EUA, muito boa gente considera que Affleck vai voltar a estar na corrida para os Oscars… Mas não com "Acerto de Contas", antes como "Viver na Noite", que ele próprio realizou, interpretou, escreveu (a partir de um romance de Dennis Lehane) e produziu.