Jean-François Balmer, Sabine Azéma e Johan Libéreau — viajando para além da ilusória realidade


joao lopes
5 Dez 2015 23:10

Sabine Azéma, Jean-François Balmer, Jonathan Genet, Johan Libéreau, Victória Guerra, Ricardo Pereira… A simples enumeração dos nomes do actores permite perceber que o novo filme de Andrzej Zulawski, "Cosmos", nasce do cruzamento de muitas experiências e sensibilidades. Curiosamente, tudo passa por Portugal, não só pelo facto de o filme ter sido rodado no nosso país, mas também porque foi o produtor Paulo Branco que convidou o cineasta polaco a adaptar o romance homónimo de Witold Gombrowicz.

O menos que se pode dizer da simples possibilidade de transpor para uma narrativa cinematográfica a escrita de Gombrowicz é que a sua abordagem da saga de dois jovens que tentam encontrar uma certa libertação espiritual numa paisagem distante da grande metrópole, resistiria sempre a qualquer banal "ilustração". Dir-se-ia que estamos perante uma narrativa, não exactamente de fuga a uma certa realidade, mas de perda de coordenadas de qualquer real — e de entrada em qualquer coisa de surreal.

Que se passa, então, na casa do casal Woytis (Azéma/Balmer)? Que mundo é aquele em que qualquer noção de familiaridade parece automaticamente desmentida pelo bizarro comportamento da filha, Lena (Guerra)? Até que ponto o desejo de estabilidade se adequa à dimensão irracional que irrompe? Em boa verdade, "Cosmos" questiona as raízes da própria experiência humana: somos aquilo que dizemos ser, ou apenas marionetas de um jogo de identidades que nos transcende?

Ligado às convulsões das "novas vagas" dos anos 60/70, Zulawski é, afinal, um criador indissociável de todo um sentimento de revolta contra as formas naturalistas de "reprodução" da experiência humana. Nesta perspectiva, "Cosmos" é um filme de outro tempo que, no limite, questiona o nosso aqui e agora — neste contexto de delirante proliferação de imagens, o que vemos, afinal, quando dizemos que estamos a ver uma representação do mundo?
Talvez nem tudo pertença ao domínio televisivo…

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