joao lopes
25 Dez 2020 19:39
Cinema japonês? Eis uma referência que, infelizmente, se foi dissipando do mercado português, mesmo não esquecendo as estreias regulares de Hirokazu Kore-eda, por certo o mais internacional dos actuais realizadores do Japão, e os diversos ciclos dedicados a autores clássicos como Yasujiro Ozu ou Akira Kurosawa.
O trabalho da cineasta Naomi Kawase tem tido, ainda assim, uma divulgação regular, através das estreias de "A Quietude da Água" (2014), "Uma Pastelaria em Tóquio" (2015) e "Esplendor" (2017). Agora, chega às salas "As Verdadeiras Mães", o filme com que marcou presença no Festival de San Sebastian.
Digamos, para simplificar, que toda a obra de Kawase está limitada pela oscilação entre a evidência mais ou menos realista das situações que encena e um impulso "simbólico" (derivado de uma visão idílica dos elementos naturais) que diminui a coerência interna dos seus filmes. "As Verdadeiras Mães", uma história organizada em torno da adopção de uma criança, não é excepção, acabando por se prolongar por mais de duas horas sem que haja grande motivação dramática para que tal aconteça.
Entenda-se: os filmes não se medem pela sua metragem, seja ela "grande" ou "pequena"… Trata-se apenas de lembrar que a consistência de uma narrativa envolve decisões concretas na gestão dos factos expostos e da sua pertinência. Fica a vibração de algumas cenas, em grande parte decorrente da solidez do elenco — do Japão para o mundo, um filme que, em qualquer caso, merece ser descoberto.