joao lopes
8 Fev 2020 15:16
O cinema inspirado em heróis, super-heróis ou anti-heróis entrou em época de saldos. Ou de exploração de mercadorias que há muito tempo se mantinham no armazém… De tal modo que o (re)lançamento, não de um protagonista masculino, mas de uma personagem feminina é vivido — ou, pelo menos, promovido — como uma grande novidade.
Acontece agora, não com a Marvel, dominante no marketing de tudo isto, mas através do catálogo da DC Comics. Título pomposo e involuntariamente disparatado: "Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação De Uma Harley Quinn)".
Aí está Harley Quinn, ex-namorada do Joker, cerca de quatro anos depois de ter participado no ensemble de "Esquadrão Suicida" — e com Margot Robbie a retomar o seu papel, aliás num envolvimento de maior responsabilidade, já que o seu nome figura também nos créditos na qualidade de produtora.
No princípio somos, confrontados com uma relativa surpresa: a voz off de Harley Quinn conduz a narrativa, num esquema que talvez possamos identificar como uma memória nostálgica das matrizes clássicos do filme "noir" — dir-se-ia uma variação esquemática de Humphrey Bogart para o universo da BD…
Breves ilusões. Cedo compreendemos que a acumulação arbitrária de cenas de acção (?), sustentadas por níveis sonoros à beira do fisicamente insuportável, está consagrada como regra dominante deste cinema que, cada vez mais, se apresenta dominado por critérios de banal ostentação tecnológica. Mesmo com uma heroína mulher (e um colectivo de aliadas femininas), tudo se confunde com a mediocridade masculina.