Sob o signo dos tornados: a catástrofe põe à prova todas as relações humanas


joao lopes
5 Set 2014 0:45

Porque é que um objecto como "Dentro da Tempestade" ("Into the Storm"), sem grandes vedetas e com um orçamento menos que mediano (50 milhões de dólares) no interior do sistema de Hollywood, consegue ser, apesar de tudo, um dos mais interessantes "blockbusters" de 2014?

Em primeiro lugar, porque o filme dirigido por Steven Quale se interessa realmente pelas suas personagens — a pequena comunidade que enfrenta uma série de tornados, numa região do Oklahoma, existe como entidade dramática, atravessada por significativas diferenças humanas. Depois, porque a aplicação dos célebres "efeitos especiais", além de não favorecer um banal fogo de artifício para "super-heróis", está ao serviço de um elaborado (e inesperado) realismo.
Curiosamente, se há modelo que "Dentro da Tempestade" evoque é o do antigo filme-catástrofe, tal como foi explorado em títulos como "Terramoto" e "A Torre do Inferno" (ambos de 1974). Dito de outro modo: os desequilíbrios da Natureza surgem como crises que colocam à prova a organização social, familiar e simbólica — no limite, trata-se de questionar a possibilidade de reposição da ordem.
Desta vez, há ainda uma componente inseparável da nossa contemporaneidade. De facto, desde os cientistas que estudam e filmam os tornados até duas personagens burlescas que insistem em usar os telemóveis face aos perigos mais radicais, este é um mundo saturado de imagens, ou melhor, em que qualquer prova de existência passa pela possibilidade de registar algumas imagens que funcionem como moeda de troca — dir-se-ia que cada época tem as catástrofes que merece…

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