crítica
Futebol… ma non troppo
"Paixões Unidas" é um filme financiado pela FIFA, tendo como objectivo contar a história da FIFA — infelizmente, a banalidade dramática e o simplismo narrativo são de tal ordem que nem sequer o gosto pelo futebol se salva...
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joao lopes
7 Jul 2014 0:20
Infelizmente, não há muito a dizer sobre "Paixões Unidas", o filme de Frédéric Auburtin que se propõe contar a história da FIFA, desde a sua fundação, em 1904, até ao Campeonato do Mundo de Futebol de 2010, realizado na África do Sul.
Que seja um filme financiado pela próprio FIFA, eis o insólito da questão. Não que a entidade que gere os destinos do futebol internacional não tenha legitimidade para produzir um objecto de cinema que celebre a sua história e, em particular, o impacto dos Mundiais. Mas há qualquer coisa de bizarro no facto de tal visão "oficial" ser pouco mais do que caricatural — para mais secundarizando o próprio… futebol!
De facto, para além da pontuação de algumas imagens de arquivos televisivos (e um jogo que, num simbolismo pueril, abre e fecha o filme) "Paixões Unidas" é, sobretudo, uma antologia dos dirigentes da FIFA. Jules Rimet, João Havelange e Sepp Blatter — interpretados, respectivamente, por Gérard Depardieu, Sam Neill e Tim Roth — são apresentados como uma espécie de sacerdotes redentores, tudo encenado num esquematismo que nem sequer consegue construir os mais básicos retratos psicológicos.
Claro que "Paixões Unidas" surge para tentar rentabilizar o efeito mediático do Brasil. E por que não?… O problema está na pompa com que se quer conferir à história da FIFA uma dimensão quase redentora, para mais apoiada num cinema de absoluta banalidade narrativa. E, por fim, quase nem temos direito a ver alguns lances de futebol…