joao lopes
30 Dez 2017 0:36
Podemos acabar o ano de 2017 com uma renovada crença nas virtudes clássicas do género musical. "O Grande Showman" (título original: "The Greatest Showman") é a prova muito real de que é possível construir um esplendoroso espectáculo musical, mantendo a tradição e, ao mesmo tempo, experimentando variações capazes de combinar a exuberância de um palco com as matrizes narrativas (e, em particular, de montagem) do mundo dos telediscos.
Neste processo criativo, torna-se inevitável dar especialíssimo destaque ao talento e versatilidade de um actor como Hugh Jackman. Lembram-se dele, dançando e cantando, enfim assumindo-se como um verdadeiro showman a apresentar a 81ª cerimónia dos Oscars, em 2009? Pois bem, é esse Hugh Jackman que reaparece aqui, interpretando P. T. Barnum (1810-1891), figura emblemática da grande tradição do circo nos EUA.
Não estamos, entenda-se, perante uma biografia em sentido estrito. Trata-se, aliás, de recriar todos os contrastes da odisseia pioneira de Barnum — de gestor de uma espécie de jardim zoológico humano, exibindo os mais diversos "freaks", a empresário de um gigantesco universo circense em que a pluralidade humana acaba por ser elemento cúmplice de todas as maravilhas do entertainment. Nesta perspectiva, pode mesmo dizer-se que "O Grande Showman" combina, com invulgar destreza e elegância, os artifícios da encenação com um sugestivo pano de fundo histórico e social.
Para o realizador estreante, Michael Gracey, australiano tal como Jackman, esta é uma verdadeira prova de fogo. Por certo integrando elementos da sua própria experiência como técnico de efeitos visuais, Gracey sabe criar um visual deslumbrante, sustentado por ousadas coreografias, sem nunca perder o fio condutor da sua narrativa — "O Grande Showman" é, em última instância, uma parábola contemporânea sobre o poder específico do espectáculo, a sua capacidade de nos projectar num universo alternativa onde, afinal, reencontramos as forças vitais da dimensão humana.