Sebastião Salgado (re)visto pelo cinema, em

crítica

Imagens e histórias de um fotógrafo

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado está na actualidade cultura portuguesa: a par da estreia do filme "O Sal da Terra", realizado por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, o seu trabalho é tema de uma exposição na Cordoaria Nacional.

Como filmar um fotógrafo? Em "O Sal da Terra", Wim Wenders reconhece que o problema se colocou ao filmar Sebastião Salgado, quanto mais não fosse porque ele começou a usar a sua câmara na direcção da própria equipa de filmagem… Em todo o caso, o filme cumpre um objectivo informativo e divulgador, mesmo se o faz de forma convencional.

Wenders partilha a assinatura de "O Sal da Terra" com Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotógrafo brasileiro — aliás, as imagens de Sebastião Salgado em várias das suas expedições resultam, precisamente, de registos do próprio filho.

No essencial, o filme constrói-se como uma evocação biográfica do fotógrafo, conduzida pelo próprio, quase sempre através de imagens a preto e branco, tratadas de forma semelhante às fotografias apresentadas.

Goste-se mais ou goste-se menos do trabalho de Sebastião Salgado, "O Sal da Terra" possui as virtudes e limites de uma matriz documental (muito corrente no espaço televisivo) em que o artista é convocado para desenvolver um discurso na primeira pessoa, ao mesmo tempo que uma voz off (neste caso, de Wenders) sustenta as pontas soltas da narrativa, garantindo a consistência valorativa do próprio retrato.

_____

* A estreia de "O Sal da Terra" coincidiu com a abertura da exposição "Génesis", de Sebastião Salgado, patente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até 2 de Agosto.