1 Nov 2017 23:28
Será que vamos encontrar Jake Gyllenhaal entre os nomeados para o Oscar de melhor actor? A acontecer, não será uma situação inédita, uma vez que já foi nomeado, na categoria de melhor secundário, por "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005). Seja como for, a sua performance em "Stronger – A Força de Viver" conta-se, por certo, entre os maiores desafios da sua carreira: uma personagem, Jeff Bauman, que no atentado na Maratona de Boston, em 2013, perdeu as duas pernas.
Não se trata, entenda-se, de favorecer a ideia simplista segundo a qual uma personagem com algum tipo de limitação física é mais "difícil" de representar (por oposição, há mesmo um lugar-comum cínico que insiste em proclamar que seria mais "fácil"). Trata-se, isso sim, de compreender que personagem é esta e como é que o filme a trata. Até porque, convém sublinhar, Bauman é alguém que cedo se distingue por um cruel paradoxo: ser alguém com evidentes dificuldades para lidar com o seu "novo" corpo e, ao mesmo tempo, ver-se solicitado como símbolo social de resistência.
A representação de Gyllenhaal reflecte a lógica de construção do filme realizado por David Gordon Green, um nome vindo da área independente de quem já conhecíamos, por exemplo, "Joe" (2013) ou "O Senhor Manglehorn" (2014), respectivamente com Nicolas Cage e Al Pacino. Estamos perante um retrato de delicado intimismo e, ao mesmo tempo, uma sugestiva crónica social — para Bauman, afinal, não se trata apenas de vencer os seus demónios interiores, mas também de encontrar uma solução para aceitar o facto de, realmente, simbolizar uma singular resistência humana contra os efeitos de um ataque terrorista.
Seria, realmente, interessante, de alguma maneira pertinente, que "Stronger – A Força de Viver" encontrasse um eco significativo nos Oscars e, de um modo geral, na temporada dos prémios. Pelos talentos envolvidos, sem dúvida — sublinhe-se também o brilhantismo de Tatiana Maslany na personagem da namorada de Bauman. Mas também porque estamos perante uma tendência actual — a recuperação cinematográfica de histórias verídicas — que, com filmes melhores ou piores, tem vindo a contrariar um pouco o domínio concedido às aventuras de heróis mais ou menos digitais. De vez em quando, é bom saber que ainda há personagens com sangue e emoções.