Léa Seydoux e Daniel Craig: romantismo,


joao lopes
1 Out 2021 0:09

Quer queiramos, quer não, o 25º título oficial de James Bond — "007: Sem Tempo para Morrer" — surge marcado por um tema que a grande indústria e todos os mercados do cinema estão a enfrentar. Podemos resumi-lo por uma dicotomia (demasiado esquemática, a meu ver): salas ou streaming?



Actualmente, por exemplo, discute-se a pertinência de, nos EUA, lançar "Dune" em simultâneo nas salas e numa plataforma (HBO Max). No caso do novo Bond, pode dizer-se que os seus responsáveis não abdicaram de uma ideia muito básica. Ou seja: era preciso estrear "007 – Sem Tempo para Morrer" nas salas escuras de todo o mundo.

Daí que tenhamos esperado mais de um ano: o filme começou por ser anunciado para abril de 2020, adiado e remarcado para novembro de 2020, adiado e remarcado para abril de 2021; enfim, adiado para setembro de 2021 — desta vez, adiado e confirmado.

Isto sem esquecer que, de uma maneira ou de outra, estaríamos a assistir àquilo que, para utilizar um lugar-comum da política, poderemos designar como o fim de um ciclo: este é o quinto e último Bond interpretado por Daniel Craig, depois de "Casino Royale" (2006), "Quantum of Solace" (2008), "Skyfall" (2012) e "Spectre" (2015).

E não deixa de ser verdade que o novo filme possui qualquer coisa de despedida, tanto mais sugestiva e, ao mesmo tempo, desconcertante quanto importa não revelar demasiado ao espectador… Que acontece, então? Pois bem, um confronto com os tradicionais inimigos. Um deles, interpretado por Christoph Waltz, vem do filme anterior. O outro, a cargo de Rami Malek, é um sintoma deste nosso século XXI: através de manipulações genéticas, ele quer impor uma nova ordem mundial — em nome da paz e da pureza, prepara-se para criar um inferno global.

A diferença fundamental provém do cansaço emocional em que descobrimos a personagem de James Bond, tendo inclusivamente perdido a sigla 007, agora pertença da agente Nomi (Lashana Lynch). Ao mesmo tempo, ele parece acreditar na possibilidade de viver uma vida diferente, dir-se-ia uma utopia romântica, com a personagem de Léa Seydoux, Madeleine, que também vem do filme anterior.

A teia de personagens e peripécias rapidamente se complica e tem qualquer coisa de drama potencialmente trágico, interessante e relativamente original, mas nem sempre bem servido pela “obrigação” de, cena sim, cena não, garantir alguma agitação visual. Acima de tudo, a realização de Cary Joji Fukunaga, certamente escorreita de um ponto de vista industrial, não tem, nem de longe nem perto, a sofisticação do contributo de Sam Mendes para o universo Bond, primeiro em "Skyfall", mas sobretudo em "Spectre".

Fica em aberto a questão de saber quem será o intérprete "herdeiro" para o filme seguinte. Sem esquecer que a escolha de tal intérprete está assegurada pela legenda final de "007: Sem Tempo para Morrer". A saber: James Bond vai voltar.

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