joao lopes
25 Set 2015 22:59
Será que a mitologia de James Dean ainda mora no espaço simbólico do cinema contemporâneo? E como representar a sua herança em filme?
São perguntas que envolvem, claro, a consciência de que o actor de três únicos filmes — "A Leste do Paraíso" (1955), "Fúria de Viver" (1955) e "O Gigante" (1956) — é uma das maiores lendas de Hollywood, para mais tocada por uma dimensão inapelavelmente trágica (morreu num acidente, a 30 de Setembro de 1955, contava 24 anos). E envolve também, por isso mesmo, a certeza de que não é possível "reproduzir" a lenda…
O filme de Anton Corbijn sobre James Dean, "Life", nasce daquilo que talvez possamos classificar como uma hesitação. A saber: representar Dean no turbilhão de Hollywood, ainda antes de ser uma star, ou tentar "imitar" o mais possível a sua pose e a sua consagrada iconografia? Esta segunda opção seria sempre a mais gratuita e, em boa verdade, a composição de Dane DeHaan, na figura de Dean, sofre de um irreparável copismo.
Não admira que o mais interessante provenha da "outra" personagem principal, o fotógrafo Dennis Stock (1928-2010), sobriamente interpretado por Robert Pattinson. De facto, pouco antes da estreia de "A Leste do Paraíso", quando Dean era sobretudo conhecido pelo seu trabalho na área teatral, Stock fotografou-o, dando origem a um portfolio que rapidamente adquiriria o estatuto de uma lendária iconografia — a revista "Life", justamente, seria o território privilegiado de revelação desse portfolio.
É pena, de facto, que o filme de Corbijn esteja tão preso desse efeito de "duplicação" de James Dean, afinal típico dos mais convencionais telefilmes "biográficos". Sente-se que a aventura fotográfica de Stock poderia ser o núcleo dramático do filme, aspecto que, em última instância, não será estranho à própria formação de Corbijn — antes de se estrear na realização, com "Control" (2007), ele foi um excelente fotógrafo e director de telediscos, essencial na definição do universo visual de bandas como os Depeche Mode e U2.