Henry Hopper no papel de C. K. Williams: um filme feito de convicção, versatilidade e talento


joao lopes
15 Ago 2014 23:14

Os espectadores têm o mercado que, apesar de tudo, merecem?… Ou é o mercado que, ao gerar as suas próprias regras, tem apenas os espectadores que merece?…

São perguntas dúbias, sem dúvida, quanto mais não seja porque se arriscam a desviar para um território banalmente moralista alguns dados que, apesar de tudo, podem envolver alguma objectividade.
Assim, digamos que "Tar" é um filme vocacionado para os espectadores mais jovens, ou seja, aqueles que, todas as estatísticas o dizem, predominam nas salas escuras — trata-se, precisamente, de uma realização colectiva de jovens alunos de cinema (da Universidade de Nova Iorque); ao mesmo tempo, estamos perante um objecto que não goza de nenhum investimento significativo por parte do próprio mercado — qualquer "blockbuster" (de rotina ou genial, não é isso que está em causa) é tratado com campanhas promocionais de que "Tar" não conhece nem sequer uma modesta imitação.
Que está, então, em jogo? Pois bem, a possibilidade de partir das palavras poéticas de C. K. Williams, distinguido com o Pulitzer de 2000 ("Tar" é também o título de um dos seus livros), para elaborar uma teia fílmica que funciona como um tecido fragmentário de memórias pessoais, ao mesmo tempo que vai expondo e questionando os poderes inusitados da própria escrita.
Talvez seja inevitável reconhecer aqui as influências de uma linguagem nascida entre o realismo mais à flor da pele e um suave apelo mitológico, indissociável do cinema de Terrence Malick, em particular de "A Árvore da Vida" (2011). De facto, os estudantes novaiorquinos procuram, com convicção, versatilidade e talento, as possibilidades de um registo primitivo que, metodicamente, dispensa qualquer colagem simplista à estética (?) dos chamados "efeitos especiais".
Para conseguir tal ambiência, o colectivo de jovens criadores contou com a contribuição, por certo preciosa, de actores como James Franco, Henry Hopper (ambos interpretando a personagem de C. K. Williams em momentos diferentes da sua vida, sendo Franco também co-responsável pela produção), Mila Kunis, Zach Braff e Jessica Chastain (de "A Árvore da Vida", hélas!). A provar, afinal, que pode existir uma relação interessante e enriquecedora entre uma instituição universitária e a indústria cinematográfica.

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