crítica
Ken Loach e a resistência do realismo
Figura ímpar do realismo britânico, Ken Loach está de volta com mais um dramático retrato social: "Eu, Daniel Blake", protagonizado por Dave Johns, arrebatou a Palma de Ouro da 69ª edição do Festival de Cannes.
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joao lopes
2 Dez 2016 0:13
O mais recente filme de Ken Loach, "Eu, Daniel Blake", é mais uma pequena grande lição de realismo, mais precisamente de um realismo britânico que não abdica de abordar as contradições internas do seu país, evitando as generalizações fáceis, interessando-se antes pela existência particular de personagens muito concretas — essa é, afinal, uma forma de humanismo e, num certo sentido, de resistência humanista.
Desta vez, Loach dirige o seu olhar para a personagem de Daniel Blake, um carpinteiro de meia idade que precisa do auxílio da segurança social, mas que esbarra com uma barreira de regras burocráticas que, em última instância, menosprezam a singularidade de cada indivíduo. Nesse processo, ele vai construir uma tocante relação afectiva com uma mãe solteira e os seus filhos.
O papel de Daniel Blake surge interpretado pelo magnífico Dave Johns, veterano da comédia e, em particular, da stand up, neste caso a dar provas de uma sofisticada energia dramática. Afinal de contas, o interesse de Loach pelos destinos individuais envolve sempre um intenso trabalho com os actores, aqui especialmente sensível nas composições de Johns e Hayley Squires, a protagonista feminina.
Com "Eu, Daniel Blake", Loach entrou para a galeria muito reduzida dos cineastas que já ganharam duas vezes a Palma de Ouro — esta aconteceu no passado mês de Maio, a primeira ocorrera em 2006, com "Brisa de Mudança". Entretanto, entre nós, o lançamento de "Eu, Dainel Blake" é acompanhado da estreia de "Versus: a Vida e os Filmes de Ken Loach", documentário assinado por Louise Osmond.