Em cenários da Mongólia: uma aventura cinematográfica com lobos verdadeiros


joao lopes
23 Out 2015 0:44

Como filmar animais selvagens? Eis uma pergunta que o francês Jean-Jacques Annaud tem enfrentado ao longo da sua carreira. Primeiro com "O Urso" (1988), porventura o seu filme mais perfeito; depois, quando encenou a existência dramática de um par de tigres em "Dois Irmãos" (2004). Dir-se-ia que "A Hora do Lobo" (nada a ver com o título português homónimo de Ingmar Bergman, datado de 1968) é o prolongamento lógico do seu gosto pela aventura.

E não há dúvida que "A Hora do Lobo" nasce de uma invulgar e, por certo, empolgante aventura. Para contar a história de um jovem professor apaixonado pelos lobos da Mongólia, com a Revolução Cultural maoísta em pano de fundo (tendo como inspiração um livro de Jiang Rong), Annaud conseguiu montar uma complexa produção em que, para começar, foi necessário treinar um grupo de lobos durante… três anos!
Daí que o filme invista muito do seu trabalho — e também das suas energias — nas cenas em que os lobos são protagonistas de um drama visceral: ameaçando destruir os rebanhos, são perseguidos pelas autoridades, desse mundo criando-se uma situação de perturbante desequilíbrio.
Annaud sustenta, como é óbvio, uma simpática fábula ecológica. Para ele não se trata tanto de "fazer história", antes de tomar aquela situação tão particular como metáfora de um gosto, simultaneamente estético e político, de defesa dos elementos naturais — desde as paisagens deslumbrantes até às peculiaridades dos lobos. A sua atitude acaba por ter a sua expressão mais significativa na verdade física dos lobos que não são, de facto, concebidos através de truques mais ou menos digitais.
É pena que o tratamento dramático de tudo isso seja algo simplista, tanto mais que, por vezes, fica a sensação de que o tempo investido das complexas cenas com os lobos terá obrigado a fazer outras cenas de modo algo apressado… Seja como for, registe-se a singularidade de um realizador que não abdica de fazer um cinema garbosamente primitivo no modo como consagra (e exige) uma encenação fiel à identidade física das suas personagens — a começar pelos lobos.

+ críticas