crítica
Luta de classes, cinema e “simbolismo”
Mais um exemplo da produção brasileira dos últimos anos: "Três Verões" consegue compensar algumas das suas limitações dramáticas com a solidez de um elenco liderado por Regina Casé.

joao lopes
15 Ago 2021 1:41
De forma mais ou menos irregular, vão chegando às salas alguns títulos brasileiros. São sinais de uma cinematografia com a qual passámos a ter, de facto, uma relação instável, permitindo-nos, pelo menos, detectar algumas das suas tendências.
Aí está mais um exemplo, desta vez uma produção com data de 2019: "Três Verões", de Sandra Kogut, é um daqueles objectos que nos seduz pela sua premissa dramática, ao mesmo tempo que se vai instalando a sensação de que o filme pouco mais tem para dar para lá da "mensagem" dessa permissa. A saber: uma visão sugestiva, mas de grande esquematismo simbólico, das diferenças de classe.
Em termos esquemáticos, estamos perante uma história de corrupção que emerge no seio de uma família "respeitável", acabando por transformar a sua empregada, Madalena, numa protagonista inesperada — ela tinha, afinal, pedido um empréstimo ao patrão e isso vai "implicá-la" nos acontecimentos…
Por um lado, o tratamento das personagens e a utilização "descritiva" da câmara têm algo de telenovelesco, como nada mais acontecesse a não ser a reiteração do "simbolismo" inicial. Por outro lado, encontramos aqui uma competência de interpretação cujo destaque vai, necessariamente, para Regina Casé — a sua Madalena impõe-se como um invulgar cruzamento de idealismo e pragmatismo, afinal expondo os limites práticos e políticos de qualquer estatuto de classe.
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