joao lopes
19 Mar 2021 19:43
A actualidade de "Mank" surge reforçada por uma performance sempre invulgar. A saber: o filme de David Fincher tem nada mais nada menos que dez nomeações para os Óscares, incluindo melhor filme, melhor realização e ainda duas categorias de interpretação — melhor actor e melhor actriz secundária, respectivamente para Gary Oldman e Amanda Seyfried.
Em todo o caso, será a direcção fotográfica de Erik Messerschmidt (também nomeado) a poder simbolizar de modo mais sugestivo a proeza de "Mank". Trata-se de fazer como se estivéssemos em plena idade de ouro de Hollywood, concebendo um preto e branco que, embora gerado digitalmente, contém as componentes específicas de um look muito anos 30/40.
Dito de outro modo: tendo em conta que "Mank" evoca a gestação do clássico "Citizen Kane" (1941), de Orson Welles, pode dizer-se que existe uma linha de cumplicidade entre o trabalho revolucionário de Gregg Toland, director de fotografia de Welles, e aquilo que, agora, caracteriza a tão notável contribuição de Messerschmidt para "Mank".
Daí o paradoxo central deste filme fascinante: existe como um produto típico deste nosso tempo de muitas derivações virtuais (é mesmo um objecto de "streaming", por excelência, produzido e difundido pela Netflix), mas envolve uma revisitação histórica e mítica de Hollywood que nos leva a repensar, renovar e reforçar os nossos laços cinéfilos — como num espelho.
Daí também duas sugestões: primeiro, uma visita ao site "Mank, the Unmaking", precisamente sobre os conceitos que presidiram à fabricação de "Mank", do trabalho com os actores ao tratamento do som, passando, claro, pela direcção fotográfica; depois, naturalmente, uma revisão do clássico "Citizen Kane/O Mundo a seus Pés" (1941), de Orson Welles [trailer, 75º aniversário].