13 Jun 2021 1:33
Uma mãe que chora o filho perdido na guerra… Um jovem que caça pássaros durante a noite… As rotinas dos soldados também durante a noite… Outras rotinas, as dos reclusos num estabelecimento prisional… Algumas crianças que contam a violência do Daesh…
"Nocturno", de Giafranco Rosi, é um filme sobre as tensões do Médio Oriente, mas está longe, muito longe, de ser uma "variação" cinematográfica sobre as matrizes narrativas dos noticiários televisivos. De facto, não há nenhuma razão, nem estética, nem ética, para considerar que o modelo televisivo de reportagem esgota as potencialidades do documentário.
É isso, precisamente, que Rosi volta a mostrar — e demonstrar. "Nocturno" propõe-se fazer um retrato das convulsões recentes da história do Médio Oriente, tendo sido rodado ao longo de três anos em zonas da Síria, Líbano, Iraque e Kurdistão. Mas não se trata de colocar um microfone à frente de determinadas personagens e, depois, ligar tudo através de uma voz off mais ou menos descritiva.
Nada disso.
O que se procura é essa intensidade singular que resulta da capacidade de o cinema dar a ver o assombramento do espaço e a inquietação do tempo. Daí que este filme não se defina como uma reportagem jornalística ou uma tese política — é um documentário sobre o espaço em que as pessoas vivem e o tempo das suas acções.
Rosi prolonga, assim, uma trajectória exemplar de que já conhecíamos "Sacro Gra" (2013), percorrendo o labirinto humano da auto-estrada que circunda Roma, e "Fogo no Mar" (2016), sobre os refugiados na ilha de Lampedusa — ele é, afinal, na actualidade, um dos mais ousados criadores no campo documental.