Melodrama do desperdício
Baseado no livro homónimo de Deborah Moggach, "A Febre das Tulipas" é um caso extremo de desagregação narrativa, afinal reflectindo os muitos problemas de produção que enfrentou ao longo de quatro anos.

Filme histórico?… Melodrama histórico?… História romanceada?… Podemos convocar os mais diversos rótulos para descrever "A Febre das Tulipas", filme de Justin Chadwick baseado no "best-seller" de Deborah Moggach (ed. Asa). Em todo o caso, seja qual for a opção, o problema não está na caracterização do objecto, mas sim na sua identidade à deriva.
Costuma dizer-se, e com boas razões para isso, que os filmes reflectem a sua própria produção. E este, não há dúvida, é um caso dramático de tal condição. De facto, entre a origem do projecto e, cerca de quatro anos depois, a sua estreia, muita gente esteve envolvida (incluindo Steven Spielberg como produtor e John Madden como realizador), mas seria Justin Chadwick a tentar emprestar alguma coerência a algo que já estava em estado de acelerada desagregação.
O ponto de partida é sugestivo e tenta rentabilizar as potencialidades dramáticas de Amsterdão, em meados do século XVII, quando as flores, mais exactamente as célebres tulipas, podiam ser uma espectacular fonte de riqueza. O certo é que a história do rico comerciante (Christoph Waltz) que encomeanda a um pintor (Dane DeHaan) um retrato de sua mulher (Alicia Vikander) nunca supera a condição de confuso esboço de peripécias fragmentadas.
Para além da má gestão de informação no interior do argumento, o filme parece querer resgatar-se dos seus problemas através de uma certa ostentação dos cenários (e também dos movimentos de câmara) que, em última instância, não decorre de nenhuma necessidade narrativa. O resultado parece-se mais com um vulgaríssimo telefilme "histórico" que deixa uma cruel sensação de desperdício — e há muito talento envolvido…