joao lopes
18 Out 2018 16:45
Perante a estreia de "O Primeiro Homem na Lua", de Damien Chazelle, evocando a viagem da Apollo 11 até ao nosso satélite (há quase 50 anos…), vale a pena assinalar o facto de os filmes-sobre-viagens-espaciais terem quase desaparecido da linha da frente do mercado. Para o melhor e, sobretudo, para o pior, os estereótipos dos super-heróis anularam tal vertente de espectáculo.
Por isso mesmo, a odisseia de Neil Armstrong, interpretado por Ryan Gosling, até à Lua não pode deixar de evocar algumas memórias cinéfilas, a começar pela referência tutelar de "2001: Odisseia no Espaço" (1968), de Stanley Kubrick. E o mínimo que se pode dizer é que o trabalho de Chazelle não sustenta qualquer tipo de comparação com a complexidade temática e a sofisticação de mise en scène da obra-prima de Kubrick.
Em boa verdade, "O Primeiro Homem na Lua" também não envolve tal ambição. Tudo se passa num domínio narrativo em que podemos colocar "Apollo 13"(1995), de Ron Howard, sobre a nave que, devido a uma avaria, acabou por não aterrar na Lua. E há uma diferença inequívoca: Howard tem uma noção muito elaborada do espaço claustrofóbico em que quase tudo acontece; Chazelle é um formalista que, tal como em "La La Land" (2016), confunde a aceleração da montagem (e até a agitação da câmara) com uma solução automática para gerar tensão dramática.
Seja como for, em defesa do filme, importa referir a atenção que Chazelle dá à dimensão mais íntima de Armstrong e também, por isso mesmo, à personagem da sua mulher (Claire Foy, a presença mais forte do elenco). Dir-se-ia que "O Primeiro Homem na Lua" oscila entre as regras do melodrama familiar e as "exigências" de um espectáculo concebido para passar nas salas IMAX — Chazelle vai equilibrando tais directrizes, com evidente aplicação e competência técnica, embora sem rasgos de invenção, muito menos de renovação do modelo de espectáculo em que o seu filme se inscreve.