joao lopes
3 Jul 2021 19:07
Registe-se: Johnny Flynn, músico britânico nascido em 1983 na África do Sul, é um interessante "revivalista" da tradição folk, atento a possíveis derivações rock, com uma carreira já definida por uma sólida discografia.
Resta saber o que ele faz, ou poderia fazer, num filme em que assume nada mais nada menos que a personagem de David Bowie (1947-2016), no início dos anos 70, quando começa a nascer a sua encarnação como Ziggy Stardust…
O filme chama-se "Stardust" (subtítulo português: "O Nascer de uma Estrela") e, tal como refere o respectivo cartaz, trata-se de retratar "David antes de Bowie". Sem dúvida, mas sendo uma das componentes centrais da narrativa o discreto impacto dos primeiros trabalhos editados de Bowie (em particular na sua digressão por palcos ultra-secundários dos EUA), como fazer esse retrato… sem as canções de Bowie?
Assim é: os gestores do património do criador de "Heroes" não cederam os direitos de utilização das suas canções e o filme mais não consegue do que encenar Flynn a cantar Jacques Brel ou The Yardbirds (bastante bem, por sinal)… O resultado é uma abordagem de Bowie que tenta "compensar" tais limitações com um pesado maniqueísmo psicológico, em particular na abordagem das relações com a esquizofrenia do seu meio irmão.
Resultado: "Stardust" é um objecto à deriva. E não apenas pelas dificuldades referidas, sobretudo porque não há ponto de vista minimamente consistente para lidar com a herança de Bowie. Nestes casos, costuma dizer-se que se espera, pelo menos, que o filme contribua para que os não conhecedores se interessem pelas canções do biografado… Mas como?