22 Mar 2019 23:27
O título "Uma Criança como Jake" respeita escrupulosamente o original: "A Kid Like Jake". Ainda bem. Em qualquer caso, talvez seja útil esclarecer a significação que nele se coloca em marcha. Não se trata, de facto, de referir uma criança com as características de Jake… Será mesmo o contrário: Jake é uma criança cujo comportamento suscita alguma hesitação quando os adultos tentam descrevê-lo.
Porquê? Porque Jake é um menino à beira de completar cinco anos e, ao contrário dos seus companheiros de escola, não brinca com bolas ou carrinhos, preferindo encenar fábulas com fadas e vestir-se como uma princesa. Daí a rotular o filme como um exercício militante sobre a "descoberta da identidade" de Jake vai um passo, no mínimo, simplista. Aliás, Jake está ausente das cenas fulcrais porque este é um filme sobre os efeitos de Jake nos outros — isto é, sobre os adultos.
Não se trata, assim, de fazer "ciência" sobre os géneros, suas contaminações ou ambivalências, mas de reconhecer, com desarmante transparência, que os adultos desta história, da família à escola, nem sempre sabem como lidar com Jake. Sublinho: desta história — não se trata de promover generalizações fáceis, mas de colocar em cena personagens singulares, realmente vivas, muitas vezes comoventes, marcadas por dúvidas e interrogações eminentemente humanas.
Não estamos, enfim, perante um relatório "clínico" seja sobre o que for, mas sim uma narrativa que sabe revalorizar o modelo tradicional de drama psicológico ancorado na fascinante pluralidade das palavras. Realizado por Silas Howard, "Uma Criança como Jake" parte, aliás, de uma peça de teatro de Daniel Pearle (por ele adaptada). E tem a servi-lo um elenco modelar, dominado por Claire Danes e Jim Parsons nos papéis da mãe e do pai de Jake.