joao lopes
23 Ago 2019 23:33
Viajamos até ao século XVIII para reencontrar uma personagem que sempre seduziu o cinema: Giacomo Casanova (1725-1798). Já próximo do final da sua existência, o "aventureiro do amor" recorda a sua paixão por Marianne de Charpillon, dama de Londres que, em boa verdade, não conquistou… Ou não se deixou conquistar…
"O Último Amor de Casanova", de Benoît Jacquot, é bem diferente, por exemplo, do "Casanova" (1976), de Federico Fellini. Do estilo narrativo ao imaginário erótico, cada um deles possui características irredutíveis. Em qualquer caso, ambos se sentem seduzidos pela mesma dimensão paradoxal da personagem — e se Giacomo tivesse sido um ser tragicamente solitário?
Tendo como base as memórias de Casanova ("História da Minha Vida"), Jacquot procura, assim, esses lugares instáveis em que coabitam pulsão sexual e as componentes inefáveis do impulso amoroso. Num certo sentido, o Casanova deste filme é alguém que, para além da sua fama de conquistador, descobre que, no limite, desconhece a sua própria vida interior.
Fundamental na encenação desse processo, de uma só vez afectivo e moral, é o trabalho dos actores, com natural destaque para Vincent Lindon e Stacy Martin, respectivamente como Casanova e Charpillon. Tendo em conta que tudo se passa num universo de muitos rituais, desfrutando uma riqueza à beira do obsceno, talvez possamos dizer que "O Último Amor de Casanova" nos dá a ver a dimensão humana como um baile de máscaras.