joao lopes
16 Abr 2016 15:58
A consagrada Corinna Harfouch. E também Lars Eidinger, Egon Merten, Eva Meckbach, Sebastian Zimmler e Ernst Stötzner. Eis uma colecção de nomes que não fazem parte das nossas referências correntes, mas que partilham uma mesma qualidade: são excelentes actores. Estão todos num título gerado no contexto de uma produção alemã que, afinal, conhecemos de forma muito limitada — integram o elenco de "O Que Nos Resta" (2012), um daqueles filmes que não merece ser esquecido no meio das avalanchas promocionais dos "blockbusters"…
Dirigido por Hans-Christian Schmid, a partir de um argumento assinado por Bernd Lange, este é um melodrama que, por assim dizer, desafia as suas próprias fronteiras. O ponto de partida relativamente convencional — uma reunião familiar durante um fim de semana — vai deslizando para uma estranheza (psicológica e simbólica) que se instala a partir do momento em que a mãe (Harfouch) dá conta do facto de ter deixado de tomar os medicamentos que lhe foram receitados por causa da sua depressão crónica…
O que faz com que o trabalho de Schmid supere os efeitos mais correntes do modelo que aplica é a sua resistência a qualquer definição determinista das personagens. Somos, por isso, convocados para um envolvente processo de descoberta — tanto quanto as personagens, também o espectador é confrontado com a dimensão mais irredutível dos laços humanos.
Acima de tudo, "O que Nos Resta" é um objecto que (re)afirma a possibilidade de um cinema que recuse qualquer fascínio tecnicista, não abandonando os valores mais primitivos de uma dramaturgia que, interessando-se pela complexidade das personagens, mantém uma relação exemplar com os actores. Nada de super-heróis, nem sequer de heróis… Por vezes, é bom saber que a vida vivida nos mobiliza.