joao lopes
16 Ago 2021 2:08
Podemos definir "Fevereiro", de Kamen Kalev, a partir de uma envolvente dialéctica. Assim, quase tudo o que nele acontece passa pela evidência — e, apetece dizer, pela luminosidade — dos elementos naturais; ao mesmo tempo, quanto mais a narrativa avança mais sentimos que a figura central, Petar, é alguém que nos escapa, por assim dizer, preservando um enigma de que ele a matéria e o espírito.
Tendo integrado a selecção oficial de Cannes 2020 (o festival que, recorde-se, não se realizou devido à pandemia), este é um belo exemplo de um cinema búlgaro que, para nós, possui também qualquer coisa de enigmático. Até porque a referida dialéctica passa pela presença de elementos paisagísticos cujo realismo parece atrair uma dimensão fantástica ou onírica.
A subtileza da encenação de Kalev consegue transfigurar os detalhes específicos da cultura búlgara em elementos que, em última instância, alcançam uma significação universal. A "trilogia" que o filme contém — acompanhando Petar na infância, na juventude e na velhice — possui a singular energia de uma vida de muitas limitações, mas conciliada com os contrastes da mãe natureza.