joao lopes
31 Ago 2018 0:22
Não há muito a dizer sobre a nova versão de "Papillon", dirigida pelo dinamarquês Michael Noer. Claro que a experiência dramática de Henri Charrière (Papillon) nas prisões da Guiana Francesa, entre 1931 e 1945, é, de uma só vez, uma intensa saga individual e um fresco sobre as sombras mais negras do período colonial. Resta saber o que se faz com história tão particular e, por vezes, tão perturbante…
Ora, o que encontramos nesta produção EUA/Espanha/República Checa não passa de uma caricatura "histórica", tecida de personagens estereotipadas (o chefe da prisão é um cliché de cliché…) e de uma gritante incapacidade para gerir os momentos mais dramáticos — tudo o que acontece, por exemplo, durante o tempo que Papillon fica fechado na "solitária" é, no plano da construção do espaço/tempo, uma imensa banalidade narrativa.
Em boa verdade, fica-se com a sensação de que os criadores (?) do filme mais não quiseram do que imitar, em sentido completamente básico e seguidista, as componentes da versão de 1973, com Steve McQueen e Dustin Hoffman (nos papéis de Papillon e o seu amigo Louis Dega, respectivamente), sob a direcção de Franklin J. Schaffner. Não sendo uma proeza de cinco estrelas, o "Papillon" original era, pelo menos, um objecto fiel a uma certa tradição aventurosa, além do mais apoiado num minucioso trabalho dos actores.
Agora, fica-se com a sensação de que os esforçados protagonistas têm como única matriz de representação (?) os actores do filme de Schaffner. Charlie Hunnam, um prodígio de falta de expressividade, tenta fazer pose à McQueen, enquanto Rami Malek parece querer duplicar os mais pequenos tiques de Hoffman… Enfim, os heróis (super ou não) deste Verão cinematográfico não sabem o que fazer com a sua herança.