joao lopes
3 Mar 2017 15:57
Uma grande história faz necessariamente um grande filme?… Mais do que nunca, importa contrariar o lugar-comum que confunde as peripécias narradas com o próprio trabalho narrativo — por alguma razão, Shakespeare já esteve na base de filmes admiráveis e outros francamente medíocres…
Aé está, agora, o exemplo ao mesmo tempo sedutor e frustrante de "Ouro". Na sua base está, não duvidemos, uma grande história — verídica, para mais. São seus protagonistas dois geólogos: Kenny Wells, perito nas relações com as grandes empresas financiadoras, e Michael Acosta, especialista das acções no terreno. Em 1993, eles descobriram um imenso filão de ouro na Indonésia… até que os paraísos prometidos se revelaram assombrados por problemas inesperados.
Chegou-se a falar de "Ouro" como um candidato a alguns Oscars, em particular nas categorias de interpretação, através de Matthew McConaughey e Edgar Ramírez (intérpretes, respectivamente, de Wells e Acosta). O certo é que o filme ficou fora das nomeações, distinguindo-se apenas por um empenho mais ou menos vibrante que não esconde os limites da sua (des)organização interna.
Acima de tudo, o realizador Stephen Gaghan — que dirigiu, por exemplo, "Syriana" (2005), o filme que valeu um Oscar de melhor actor secundário a George Clooney — não consegue sustentar a narrativa no plano da introspecção psicológica, o que seria tanto mais interessante quanto está em jogo um profundo dilema moral. Os resultados têm apenas a eficácia de um rotineiro drama policial, muito aquém das qualidades que a história prometia.