Damian Lewis em


joao lopes
8 Jul 2016 19:37

As adaptações dos romances de John Le Carré constituem uma espécie de sub-género dentro do próprio género de "policial/espionagem". Daí que, face ao novo "Um Traidor dos Nossos", as comparações seja inevitáveis. E convenhamos que, em tempos recentes, tivemos algumas variações muito consistentes: "A Toupeira" (2011), de Tomas Alfredson, recriava com assinalável competência a teia de "Tinker Tailor Soldier Spy", enquanto "O Homem Mais Procurado" (2014), para além da segurança metódica da direcção de Anton Corbijn, ficou como um dos derradeiros exemplos do trabalho de um actor tão invulgar como Philip Seymour Hoffman.

Dir-se-ia que o problema fundamental de "Um Traidor dos Nossos" seria sempre a apresentação da própria relação humana que desencadeia todas as suas peripécias. A saber: o encontro de um jovem professor de Oxford (Ewan McGregor) que, durante umas férias com a mulher (Naomie Harris), em Marrocos, conhece Dima (Stellan Skarsgard), um russo com relações pouco recomendáveis… Como e porquê o professor se sente atraído por tão inusitada personagem?

 



O filme tem a seu favor a diversidade de um elenco recheado de talentos — Damian Lewis, popularizado pela série "Homeland/Segurança Nacional" (2011-14), é também um dos seus trunfos. Mas nem sempre possui a capacidade de sustentar um labirinto de factos (e suposições) em que a complexidade psicológica das personagens é sempre um desafio. Dir-se-ia que a realizadora Susanna White não arriscou (ou não teve condições para arriscar) para além de um modelo de thriller mais ou menos escorreito e televisivo.

Seja como for, não deixa de ser desconcertante que um filme como "Um Traidor dos Nossos" corresponda a um modelo de espectáculo que, noutros tempos, seria muito mais acarinhado pelo mercado. Na verdade, o domínio dos modelos de Verão — desde os "super-heróis" até aos desenhos animados — reduz o espaço tradicional das ficções adultas que, para todos os efeitos, procuram manter uma relação interessada e interessante com a arte narrativa. No meio de tal conjuntura, John Le Carré acaba por ser a referência mais forte.

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